terça-feira, 26 de julho de 2016

BUSCAS FREUDIANAS



ref. 14 de set. de 2014 (um dia de luto)


Se estivesse vivo, o grande Sigmund Freud seria um ávido estudioso do futebol. As paixões decorrentes deste esporte tão misterioso e confuso, o intrigariam. E o mestre no auge de sua sabedoria diria:
É confuso por que é simples.
O pai da psicanálise se esbaldaria nas contradições geradas dentro de uma mesma partida. Dentro de um mesmo time.
As oscilações entre o êxtase e a tormenta.
O choro.
A vergonha.
A ira.
Tentaria entender os quadros mentais que se projetam em uma partida, sua estrutura. Sua lógica.
Lançaria-se a questões que tentariam explicar a perfeição e a apatia?
Perguntas minhas, que tento transferir a alguém mais competente.
Confesso a você meu caro, que mesmo me aventurando nessas leituras, não consigo respostas.
Há duas semanas, esforço-me em amadurecer uma reflexão digna da perfeição tática ocorrida na chácara da Graciosa. Na situação, ganhamos por 8 a 4. Foi um desfile de belos passes. Triangulações. A geometria do campo foi redesenhada por nossa equipe.
Retângulos.
Triângulos.
Circunferências.
A mágica matemática em plena ação.
A Matemática, é a ciência mais popular calculada e reinventada por boleiros.
Reinventamos o vento.
Isso mesmo. O vento.
Foi o que restou a nossos adversários.
Que humilhados sucumbiram.
Naquela partida havia frieza.
A frieza antagoniza com suas primas-irmãs apatia e arrogância.
Como a lenda grega de Hércules contra Hidra, todas habitam um mesmo corpo, uma mesma mente e são filhas da vaidade.
Se a frieza vem acompanhada da arrogância, não importa quantas vezes corte a cabeça desta Hidra, ele renascerá com outras duas.
A arrogância quando absorvida pela sua irmã apatia, leva o herói ao fracasso.
Dramático.
Mas assim é o futebol.
É uma tragédia, no sentido grego do termo.
O esporte das multidões.
Interfere em casamentos. Promove lutas homéricas. E frustrações abissais.
O amor intenso causa dor maior que traição ou até mesmo a morte.
E é do luto que escrevo essas linhas.
Hoje publicaria uma página em branco, tamanho meu luto.
Mas, o futebol, como diria Albert Camus, molda o homem, revela o seu caráter.
Sábias palavras, vindas de um homem que se dedicou à literatura e a posição mais solitária do campo: o goleiro.
E é dele que por justiça devo narrar a tragédia ocorrida nesta tarde.
O goleiro luta.
Luta sozinho.
Quando erra há a queda do mundo.
É gol.
Mas é uma luta travada por um homem só.
É pelos olhos do goleiro que medimos a frustração de um time.
E como o meu goleiro estava encabulado ao término da partida de hoje.
Foi o nosso melhor atleta em campo. Evitou que a humilhação virasse massacre.
Defendeu tudo que pode.
Contra um.
Contra dois.
Contra três. 
Contra quatro.
São as dores no corpo deste combatente solitário que denunciam a apatia de seus companheiros.
Foi o jogo de um goleiro contra um time.
Um jogo de um time só.
Simplesmente não jogamos, como prefiro dizer: não encaixamos.
Foi uma sapatada.
Humilhante.
Uma bela sapatada.
E voltando a Freud.
Lanço-lhe, caro doutor, uma pergunta pós morte. Para ecoar no além:
Como pode a perfeição e a mediocridade serem tão próximas?

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