quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O GLORIOSO



05 de outubro de 2014

Jogadores de futebol tem suas histórias, muitas delas mascaradas e reorganizadas pelo polimento da memória. As partidas memoráveis são sempre limpas, irretocáveis.
Muitas vezes, quando começo a tecer essas linhas, questiono-me sobre essa higienização.
Deste lembrar sem traumas.
Pergunto-me como seria narrar o grosso, o bruto do fato.
Ao descrever um gol, dizer que a jogada nasceu de um erro de cálculo. Uma antecipação mal feita.
Descrever cada xingamento em campo. Os ditos. Gritados. E os nãos ditos.
O futebol é jogado. E o bem jogar futebol reflete em gols.
Onde ficam os gols perdidos?
A triangulação perfeita.
A passagem pela lateral sem o passe.
Os chutes errados.
Quantos.
Definitivamente não.
Não.
Não tenho essa capacidade. São muitos os detalhes, e sinto-me incapaz de tal empreitada.
Tudo ocorre muito rápido.Tão rápido que os gols são flashes em minha memória.
O escritor francês Victor Hugo (1802-1885) em seu belíssimo Nossa Senhora de Paris (O Corcunda de Notre Dame) ao se referir à arquitetura, dizia que a mesma conta a história. Conta o tempo em seu corpo.
Em suas marcas.
Assim é o campo de futebol.
Assim é o Glorioso.
O nosso Glorioso.
O Gigante dos Predinhos.
As histórias de nossas partidas há um ano estão gravadas em seu gramado.
As batalhas nas entradas de áreas.
Os voleios.
Os chutes.
Cabeçadas.
Em nossos corpos ficam suas marcas.
Arranhões da terra dura.
Da grama grossa.
É a história contada com os corpos.
O dele e o nosso.
Do nosso e dos outros.
De tantos outros.
Hoje, o Gigante estava lindo.
Gramado aparado em uma bela manhã de sol.
Bela como a partida jogada.
Extremamente técnica e viril.
Brigamos.
Xingamos.
Suamos.
Ganhamos.
No final.
O silêncio.
Até o domingo que vem.



ELETROGE F C 4 X 3 ALFA EMBALAGENS

domingo, 25 de outubro de 2015

NA PONTINHA DO PÉ

Real Madri 7 x 3 Eintracht Frankfurt. Partida realizada em 18 de maio de 1960 em Glasgow, na Escócia - taça da Liga dos Campeões da UEFA de 1959-1960.
Fonte: http://imortaisdofutebol.com/2013/04/16/jogos-eternos-real-madrid-7x3-eintracht-frankfurt-1960/ 

25 de outubro de 2015


Acreditem, foi por calçar quarenta e um e não quarenta e dois que ela passou.
Tocou caprichosamente na ponta. Na parte mais frágil de toda estrutura.
Poderia ter sido no peito. Mas não. 
Caprichosamente resolveu tocar na ponta.
Tocou. Passou e entrou.
Imagine o desespero.
Triangulação na área, a bola é delicadamente alçada. Sem peso.
Corri. Quando a corrida não resolvia mais. Saltei. 
Mergulhei no espaço arremessando minha perna esquerda contra o ar.
A bola.
Batida seca.
Apenas tocou. Tocou na pontinha.
Ah se fosse quarenta e dois!
Tocou na pontinha e entrou.
Apenas pude ver o desespero do goleiro. 
Desespero daquele que nada pode fazer.
Não naquele momento.
Não naquela bola.
Naquela bola que tocou na pontinha e caprichosamente mudou a direção. 
O futebol é feito de milímetros.
Arrisco-me a dizer, são os milímetros que decidem partidas.



ELETROGE F C 5 X 4 AMEPAR

Gols: (2) Guilherme; (1) Bruno; (1) Wesley; (1) Marcos.





segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O paredão



O lendário arqueiro do  Sport Club Corinthians Paulista, Ronaldo Giovaneli.


O Ousado Renê Iguita e a sua defesa do escorpião.
01 de fevereiro
Não tem meio termo.
Como sabiamente afirma a inteligência popular, o goleiro é meio time.
É o santo milagroso. 
O de todas as horas.
Naqueles jogos que o time demora para encaixar, é essa figura que tem que garantir o bicho.
Goleiro bom,é bocudo.
Ranzinza.
Sempre reclamando do posicionamento do time. 
Nada está bom. 
É a zaga que deixa virar.
O meio que que não acompanha.
Cada salto, uma encenação.
Nunca sai limpo de campo.
Até quando assiste o jogo, dá um jeito de fazer das suas.
Goleiro bom nasceu para ser protagonista. Não aceita papeis secundários em campo.
Houve um período na história do futebol brasileiro que se acreditava que nessa posição jogavam atletas bem apessoados, quase artistas de televisão - a campanha encabeçada por Leão ao longo dos anos de 1980, quando participou de campanhas publicitárias, arregimentando o público feminino para dentro dos estádios. Por falar em Leão (para os menos informados, falo do goleiro Emerson Leão, arqueiro do Palmeiras, Corinthians e Seleção brasileira), o folclórico goleiro em uma de suas máximas, costumava dizer a seus defensores:
"'Não deixa virar, não deixa chutar, não abre".
Ou seja, defenda tudo que se passar eu garanto.
Geralmente, nós, os defensores, costumamos seguir a regra essa máxima.
É traumático ouvir o barulho da rede.
Quando isso acontece, nossos guarda-metas parecem senhoras descabeladas, nos olham com desespero.
Como se pedissem uma explicação para o ocorrido.
Quando é "frango", sequer levantam do chão.
Mas, são líderes.
Contra o goleiro não há argumentos.
Em jogos de campeonatos.
Aqueles de campo cheio. Com direito a rojões e tudo.
Geralmente são eles que puxam as filas dos times.
Aquecem no fundo do campo. 
Isolados, como se preparassem para transcender.
Lânguidos e serenos.
Sim, há uma definição física para os arqueiros, geralmente, acredita-se que esse deva ser alto, de boa envergadura, e por mais fraco que seja, deve transmitir confiança no olhar.
Bom, nosso paredão foge a todos esses requisitos.
Baixinho e corpulento, tem um repertório de "foi mal" e muitos frangos.
Mas nas últimas partidas anda demonstrando uma agilidade NUNCA ANTES VISTA NA HISTÓRIA RECENTE DESSE TIME.
Com defesas seguras e plasticamente belas, está garantindo as partidas.
O homem parece que fechou o corpo, até quando chega atrasado, a bola o procura.




Final da fatura:
ELETROGE F C 2 X 0 F C PAULISTA
Gols: (1) Fernando (São Judas Tadeu); (1) Rafael (gol de placa)

sábado, 17 de outubro de 2015

OLHA AÍ, ESSE É O MEU GURI

Gerson, controlando a saída de bola na memorável Copa do Mundo de 1970.
Fonte: http://blogdoiata.com/category/materia/page/9 



Como é prazeroso ver um volante clássico. Do tipo que sabe jogar.
Um Gerson.
Joga fácil, de um futebol suave.
Joga tão fácil que traz sempre no rosto um sorriso.
Não por arrogância, mas pelo simples prazer de jogar o jogo.
O jogo que tão bem entende.
O jogo que domina.
Longe da categoria dos bons e velhos brucutus. Truculentos. Cavadores de minhocas.
Não. Esse não.
Esse flutua em campo.
Rápido.
Dizem que volante bom é aquele que joga e você não vê.
É mais uma das verdades futebolísticas.
Rouba a bola no silêncio. No vazio do pensamento do adversário.
Faz que de um lado, e dá no outro.
O campo fica pequeno.
No suave bailar.
Em jogo pegado, assume a batuta. E é do fundo que orquestra passa a ser regida.
Quando isso acontece todo o movimento harmônico do jogo se transforma.
De pegada em pegada aparecem os espaços.
Espaços em futebol, via de regra são gols.



AMIGOS DO OTACÍLIO 3 X 3 BARÇA

(1) Leandro; (1) Rato; (1) Guilherme.

domingo, 4 de outubro de 2015

Cheio de marra

Fonte: esporte.ig.com.br 





04 de outubro de 2015

Até futebol de mudo é barulhento.
Arrisco-me a dizer, que não há esporte no mundo tão marrento como o futebol.
Não há um metro sequer do gramado para cavalheiros. 
Lordes à britânica? Na várzea?
Isso não existe.
Quem espera em um campo de futebol homens educados exercitando a fina educação, sairá da beira do gramado profundamente decepcionado. Incrédulo no futuro da humanidade.
Dentro das quatro linhas até malandro passa por otário.
É um jogo de nervos.
Como diria um saudoso companheiro de zaga: "só no psicológico".
Interpretamos o tempo todo.
Se Shakespeare  tivesse conhecido esse esporte, com certeza escreveria peças das mais diversas naturezas, na vã tentativa de compreender o espírito que move uma partida.
O futebol, jogado, em muito supera o esporte, tende a arte. Mas ao contrário do que pensam os jornalistas moralistas que o avaliam. Esse jogo não encanta pela plasticidade. 
Sinceramente, essa ocorre em lampejos da partida. É a leitura do replay. Coisa de jornalista.
O futebol é arte pelo cinismo, é a arte da encenação.
E quem não conhece os atalhos do campo sofre. Pois é nos atalhos que tudo acontece.
O tapa antes da corrida.
O joelho que dobra no encontro.
A camisa agarrada.
O pisão no pé.
Somos atores.
Entre o início da ação e o desfecho, o silêncio.
Um vácuo de poucos segundos, como se preparasse as falas.
Aqueles segundos de concentração.
De repente.
Um explosão efusiva de gritos indignados. Olhos arregalados, como se desafiassem exércitos.
Dedos em riste.
Uma batalha. Que ora ou outra um conhecido, dá uma piscadela para o adversário, como se alertasse da cena.
Somente os "juvenis" não entendem. Levam a sério.
Mas todo tumulto tem seu protagonista.
Uma partida de futebol, tem defensores que se pensam imbatíveis. Meias perdidos em soberba. Atacantes egocêntricos. Mas nenhum.
Nenhum deste personagens consegue superar aquele que de todos é o maior.
O árbitro de futebol.
Joga sozinho.
E quando acoado, dá por encerrada a partida.
É o dono da bola.
Desafia exércitos inteiros.
Está sempre no centro da cena.   
Muitas vezes esse protagonista, veste a "marra" do estrelismo.
Nem conversam com a gente.
E isso ofende.
Uma coisa é você estar errado. Outra coisa é ser ignorado.
E não há boleiro no mundo que admita ser menosprezado.
Nos preparamos para a cena.
Faz parte do show.
E o "doutor professor" nem dá ideia.
Pelo contrário. Lava a alma no cartão.
Ameaça expulsar.
Marca a falta com a mão no bolso.
Olhando em nossos olhos. Como forma de advertência,
"fique quieto senão..."
Vem pra cima.
Esses senhores perderam de vez a esportiva.




ELETROGE F C 6 X 6 RD PROJETOS (1998)

gols: (2) Wesley; (1) Toddy; (1) Bruno; (1) Marcos; (1) André.