segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A CADELA QUE DEIXOU EXU SEM MERENDA



Sobre 21 de agosto

Vem Preta.
E ela sequer olhou. Não latia, choramingava. Caminhava com dificuldades. Com muito sacrifício encontrou o vasilhame de água. E bebeu.
Bebeu a goles grandes. Goles de uma sede de ressaca. 
Sede que não acabava.
Esvazou-o e pediu mais. Após o segundo, abanava o rabo pedindo mais água. E assim repetiu o gesto mais umas cinco vezes.
Coisa de se estranhar.
Mais estranho ainda foi a origem da bebedeira, um despacho. Fora de encruzilhada. Parecia trabalho feito com endereço. 
Logo pensei. O Pai de Santo dos Gorilas F C agora deu de fazer serviço a domicílio. 
Porém, em atraso.
O freguês teve a carteirinha carimbada na manhã anterior.
O cardápio?
Fantástico.
Galinha preta na farofa regada a pinga. 
Muita pinga.
De ressaca, hoje nem latiu.




quinta-feira, 18 de agosto de 2016

MEU MENINO TORNOU-SE HOMEM



sobre 14 de agosto

Em uma corrida tímida e descompassada atravessou o campo.
Eram seus primeiros passos. 
De meias até o joelho. Calçava um par de chuteiras emprestadas. 
Tudo era grande naquele momento.
O uniforme que sobrava, envolvia-lhe em tamanho dobrado.
O campo em sua infinitude.
Parecia nunca chegar, mas continuava a correr.
Foram longos segundos de corrida até o posicionamento final. 
Passara diante de meus olhos que tudo observava como se a eternidade se fizesse naquele momento.
Contemplei-o, com o orgulho da fera que ensina a caça a sua cria.
Em sua corrida, procurava equilibrar-se em um frágil corpo que seria testado entre homens. Estava dado o seu batismo.
O primeiro passe que recebeu ficou em família. 
Do recebido ao transferido.
Jogue plantado. Era o que lhe dizia.
Sempre digo isso aqueles que iniciam.
Depois do susto, jogou.
Jogou com personalidade.
Passou e recebeu.
Trombou.
Caiu.
Mas levantou.
Até arriscou a chutar.
Jogou tranquilo sob a sombra de meu olhar, que orgulhoso, via meu menino tornar-se homem.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

FOI DE BICO

Dada pelo Atlético Mineiro, marca o gol do título brasileiro de 1971 sobre o Botafogo.
Fonte: http://www.atletico.com.br/torcida/dada-maravilha/

ref. a 07 de agosto de 2016

Não existe gol feio. Feio é não fazer gol.
Essas palavras não são minhas, mas sim de Dada Maravilha, o "beija-flor".
Figura desengonçada em campo. Atacante do tipo caneludo. Acredito que Dada poderia se autodenominar, não beija-flor (em uma analogia que fazia em relação ao voo da ave e seus saltos), mas, o "atacante anatômico".
Era um especialista em fazer gol com qualquer parte do corpo.
Peito.
Canela.
Pescoço.
Barriga.
Costa.
Bobeou.
Bola na rede.
Defensor do gol e pronto.
Sem firula.
Entendia a mentalidade do torcedor. Entendia tanto que vestiu a amarelinha. quando usa-la representava algo de valor.
Era adepto de um tipo de chute muito comum no futebol de salão. Não o futsal. 
O velho futebol de salão, o jogo da bola pesada.
Batia de bico como poucos.
Isso mesmo, de bico.
Um chute seco de dois sons.
Tuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmm.
Fiiissssssssssssssssssssssssssssssssssss.
Se o goleiro estiver desatento, soma-se a esses, o som da rede.
A bola sai reta, sem parábolas.
Forte como um tiro.
Não é um chute dos mais belos. Mas é eficiente.
Ele sabia disso.
Romário, seu herdeiro. Sabia disso.
Maurão sabe disso.
Tentou de toca e chapa.
O goleiro defendeu.
Tentou cruzado.
Outra vez, lá estava o goleiro.
Parecia perseguição.
Incomodado, limpou o zagueiro e deu de bico.
Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmm.
Fiiiiiiiiiiiiisssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss.
Chuuuuuuuuuuuuuuuuuuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.
gol. 

terça-feira, 2 de agosto de 2016

FOI. NÃO FOI.

Expulsão de Pelé no San-São de 1961 pelo campeonato estadual, nesta partida o Santos perdia por 3x1. "Armando foi o árbitro que expulsou Pelé de campo. Foi quem errou uma contagem de pênaltis e fez com quem o campeonato paulista de 1973 terminasse empatado. Levou um soco de um dos maiores ídolos do futebol nacional, Nilton Santos".
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/esportes/2014/07/armando-marques-expulsou-pele-apanhou-de-nilton-santos-e-empatou-uma-final-6757.html 

31 de jul. de 2016


Fico imaginando o que leva uma pessoa a assumir a função de assoprador em uma partida de futebol. Nunca está certo, pois toda decisão interfere em um dos lados.
Se não bastasse os marmanjos mal-humorados em campo,  ainda tem que lidar com as paixões externas as linhas.
Em tratados de psiquiatria, talvez, um dia abrir-se-á um campo exclusivo para o estudo deste quadro comportamental.
Sempre sozinhos. Volte e meia andam em três ou quatro. Até tentam se enturmar, mas basta colocarem o instrumento de assopro na boca para que tudo mude.
O boleiro sorridente já não o conhece mais.
Atenta contra a sua honra constantemente.
E o que faz a criatura?
Pondera.
É paixão de sobra nos alambrados (quando o campo oferece esse recurso). Um mar de gente pendurada, elogiando-o com os mais requintados palavrões. 
E o distinto senhor de preto? 
Impassível. Como se nada o atingisse.
 Sobre as cobranças da torcida? A coisa parece ser pessoal.
Os gritos cumprem as mais diversas funções. Das advertências sobre o espaço à preocupação com a saúde deste senhor:
"Ai juizão, tá cego?"
"filho da p... se não enxergar direito vai morrer"
" Ai professor, a gente não gosta de erros"
Há aqueles que são mais atrevidos, os insultos atentavam contra a honra de sua família:
"Cornooooooooooooo"
"Ladrão safado"
"Vai procurar a sua mãe na z... seu filho da p..."
Uma covardia. O que faz as vaias de estádio parecerem revolta de colegiais bem comportadas.
Futebol na várzea é pra homem. 
Árbitro então? Tem que ser homem duas vezes mais, ou louco.
Não pode errar.
Mas no futebol, o erro é relativo.
Ai amigo. Surgem os grupinhos e os justiceiro.
O torcedor tem um senso de justiça muito peculiar.
Entendeu que foi roubado, cobra no ato. Do jeito que for. 
E o boleiro não ajuda.
Tem jogador que treina tombos e rolamentos no meio de semana.
Fora os canelas de vidro e os chorões.
Um amigo. Árbitro. Disse-me uma vez como lida com os xingamentos dentro e fora de campo, abro aspas 
"Ao entrar em campo digo aos atletas, desejo a vocês e às suas famílias tudo que me desejarem".
Um mestre do constrangimento.
Sempre com um sorriso de canto de boca.