domingo, 20 de agosto de 2017

Cutucada no oco


Famosa dedada em Cavani em jogo Chile e Uruguai em 2015 pela Copa América.

A área é uma festa. Um pega-pega sem controle.
É jogador que corre de camisa grudada. De  mãozinha dada.
Um abraça-abraça.
Tem o sombra que se mistura em meio as paredes de marcação e procura espaço. Nestes metros quadrados habita o folclórico gato. O tipo de jogador chato, que se esfrega. Vive deitando nos braços dos zagueiros. Com beque brucutu até desfalece. Se esfrega. Roça. Seu corpo inteiro entrega as intenções.
 Quando apertado, grita e se joga.
Deste tipo,ninguém gosta. Marcador que se presa aceita cotovelada na corrida. Empurrão no salto e até cama de gato, mas roçada não. Isso é ofensivo.
Na área todo mundo corre juntinho. Parece até nado sincronizado. Pula daqui. Que pulo dali.
É um tal de tapa na orelha e cotovelo no peito que nunca se viu.
Parece uma zona franca. Tudo pode abaixo da linha da bola.
E nesse vai e vem, o gato se esfrega. Grita. Rola na dividida com o beque.
E reclama.
Como reclama!
Numa dessas idas e vindas à área, em um jogo pegado. Dos bons, daqueles que marcador é rei. Percebi algo inusitado.
Em meio a trombadas e cotoveladas a procura da bola, havia um ser atônito. De olhos esbugalhados. Parecia congelado, não dizia nada. Sequer piscava.
Parado. Viu toda a jogada se desdobrar. 
A bola, como que por crueldade  passou-lhe do lado.
Sequer esboçou  reação.
Quando voltou a si, constrangido pediu para sair.
Era lesão?
Cansaço?
Sem respostas apenas saiu.
Estava bem no jogo.
Mas saiu.
Saiu à revelia.
Da torcida que não compreendia. Achava mascaração.
Do treinador que esbravejava impotente à vontade do atleta.
Saiu.
Saiu do campo o jogador olho no olho. Um driblador chato.
Apenas saiu.
Ainda atônito, trocou de roupa. E disse que não voltaria mais.
Cabisbaixo aceitava a situação.
Ninguém entendia o acontecido.
Ninguém. 
Até olhar para o lado do campo e observar o seu marcador cheirando o dedo e dizendo em alto e bom som:
- Poxa comeu o que hoje?