domingo, 19 de março de 2017

Camisa com urucubaca


O cara não tira a camisa nem para dormir. Vai em casamento está lá, a camisa debaixo do terno.
Em enterro, aniversário da sogra e de sobrinho, até parece garoto propaganda. Lá a está, uma segunda pele, estampada com o sorriso do indivíduo na foto.
A camisa já anda sozinha.
Se abusar dá autógrafo e se escala.
Estou vendo o momento que o cara vai pedir direitos de imagem e fotografia de churrasco no fundo do quintal.
No time, já está dando o que falar.
Mas não é a presença da camisa que incomoda o grupo.
O problema é o fato de desde quando essa adentrou nosso vestiários, o nosso craque caiu de produção.
O cara batia de letra, agora dá de calo.
Bola de chapa anda subindo.
E a velocidade? Anda de cabeça baixa e resmungando.
Chegou a afirmar que estamos agindo como a imprensa, aumentando os fatos.
Que é pura intriga.
Quem dera.
Podemos até aumentar, mas que o fato existe. Ah, esse existe.
Na resenha, caiu na roda.
Virou até verbo.
Teve membro da diretoria que preocupado, procurou pastor, padre e pai de santo com a fotografia do indivíduo e a camisa para ver se era trabalho feito.
Os atletas mais espirituosos, na oração do jogo, clamam a Deus com os pulmões inflados.
Creio que alguns, estão até colocando o seu nome nas intenções de reza.
Hoje, trocou de camisa.
Não falou o motivo. Mas trocou.
Até gol fez.


segunda-feira, 6 de março de 2017

Movimento parabólico

Desolados, jogadores do Bayern não acreditavam no que tinha acabado de acontecer. Final da taça da Liga dos Campeões da UEFA de 1998-1999 entre Bayer de Munique (1) e M. United (2) no Estádio Camp Nou, Barcelona, Espanha. “Três minutos de acréscimo. Dois gols. E um título surreal.” 
Fonte: https://imortaisdofutebol.com/2013/05/23/jogos-eternos-manchester-united-2x1-bayern-munchen-1999/ 

Atônito ele observava o movimento parabólico que se formava no espaço.
Contemplava impotente a bola subir a uma altura que lhe causava alívio.
Entretanto, fora a queda que mudou a história.
Seus olhos abriram-se como se quisessem saltar para fora.
Derrapava na lona com o corpo ainda deitado.
Esticou braço.
Pernas.
Até o pensamento.
Era a expressão máxima do desespero.
Mas, pouco podia fazer.
Viu-a entrar e prender-se a rede, era como se a própria dissesse "FOI GOL E PRONTO".
Desesperado e ainda de joelhos socava o chão e maldizia a sorte.
Sentia-se sozinho, humilhado. Sem chão.
Aos trinta e quatro minutos, conseguira defender quase tudo. Conseguiram marcar quase todos.
Mas o QUASE indica que algo ficou, que algo passou.
Todos estavam praticamente dentro do gol. Mas como um ato falho, esqueceram a entrada da área.
Foi uma meia bicicleta.
Um belo movimento pendular.
Havia uma perna direita livre.
Havia um meia livre.
Havia um corpo com espaço para movimentar-se.
Entre o silêncio do chute e a explosão eufórica do gol, havia uma estrela.
E como brilha essa estrela.