quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

São VAR

fonte: https://www.meutimao.com.br/noticias-do-corinthians/341592/falta-de-criterio-e-erro-duplo-em-gol-sofrido-comentarista-de-arbitragem-critica-atuacao-de-pitana

De hoje em diante serei o mais ávido defensor do VAR.
O VAR do povo. O moralizador do futebol.
É imperioso que tomemos medidas contra a caolhice de árbitros como Pitana.
Que erros grotescos ocasionados por sua miopia não mais interfiram nos resultados de partidas de futebol.
Que venha o VAR.
E que venha para ficar.
Com o VAR, ontem, a justiça seria feita. O bom zagueiro Gil não seria penalizado. Não teria sua consciência assombrada com a falta do gol derradeiro.
Irritou-se, Indignou-se.
E Gil estava certo. Era inocente. Fato comprovado por 32 câmeras que viram, filmaram tudo.
Menos o árbitro, que míope, assinalou a falta.
Maldito Pitana.
Foram muitos os ângulos. Na mais pura crueldade do replay, visto em câmera lenta, em ângulos invertidos.
E em todos.
Em todos. Gil evitou o toque.
Foram diversos Gil. E em todos, saíra ileso de culpa.
Mas a miopia de Pitana foi decisiva.
Árbitro de Copa do Mundo. Não aceita ser questionado.
Fez cara de "estou com a razão". Confrontado, ameaçou punir.
Estava convicto.
Um erro por convicção.
Um erro de Libertadores. Em mata-mata.
Com o VAR, seria alertado. Até acredito que o alertaram. Mas era tarde.
E para piorar, a encenação com um assombroso conjunto de giros e gritos.
E Gil?
Atônito foi tornando-se indignado. Com o despeito dos injustiçados.
O VAR evitaria o chute de direita que enganou Cássio.
Evitaria o barulho estridente da bola a bater no fundo da rede.
O som do desespero, de filme repetido.
O fantasma do Tolima.
Por isso digo, a solução para o futebol está no VAR. 
O VAR evitará o choro dos inocentes.  Que amigos cruéis, insensíveis à dor, em momentos como esses não bombardeiem as redes sociais com os mais monstruosos memes. Piadinhas horrorosas.
Ah se tivéssemos o VAR!
A noite de eliminação foi longa.
Uma derrota que veio como vitória.
Foram 2 a 1, e não bastou, o Corinthians caiu outra vez.
De um primeiro tempo promissor. De um Pedrinho irresponsável. De Love pedindo desculpas por gols perdidos. E outra vez uma queda diante do Guarani do Paraguai.
Nada, conforta a insônia oriunda da desolação.
Por isso defendo o VAR, o herói das multidões.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

O Belo


O futebol e seus musos. De Renato Portaluppi, Paolo Maldini a David Beckham. Criaturas de encanto invejável que percorreram os gramados internacionais despertando os desejos mais profundos do público feminino. Fico a pensar como deveria ser difícil caminhar ao lado de tais criaturas. De lidar com a invisibilidade. Para ser franco, de suportar a inveja.
Alguns, mais despeitados, apoiados por tantos outros temerosos de tais criaturas, dizem que  beleza destes atletas é hiperdimensionada pelos veículos de comunicação. São duros com suas palavras. Chegando ao ponto de colocar em dúvida suas masculinidades. Assumem o consenso de que tudo não passa de uma edição de imagem.
E como consolo, minimizam o universo feminino, afirmando que as mulheres se encantam por qualquer propagandas.
Mas nada. Nada do teçam, dará conta de tal despeito.
Tais comentários chegam a ser toleráveis nessas maldosos bocas mortais.  Pois ídolos são seres distantes. E quando belos, inatingíveis.
Se tudo é propaganda, como explicar os musos da várzea?
Nos campos não televisionados.
Campos onde a beleza é tabu.
Que ser alinhado é estar com um bom corte de cabelo e sem cheiro de álcool da noitada anterior.
Os tempos mudam.
Futebol virou lazer de família.
A beira dos campos até parece piquenique. Tem cooler, energético, protetor solar e muita gritaria.
Vai namorada, prima, amiga, irmã, todas uniformizadas com a camisa do clube.
Gritam, oram e xingam.
Muitas se aventuram em estratégias de jogo.
Mas algumas,mesmo comprometidas se deslocam aos campos mais distantes, para acompanharem seus musos.
Uma verdadeira devoção.
Recentemente tenho presenciado um fenômeno, que despertou o interesse de tal público, a ponto de levar até mães de atleta à fidelidade das beiras de gramados.
Um legião o acompanha, de entendidas de futebol, a torcedoras de família.
Os bares ao lado dos clubes esvaziam-se com sua presença.
Esse fenômeno tem nome e desfila pelos gramados londrinenses. Atende educadamente a todos por Val.
Lindo Val.
Sua presença gera desavenças em casais.
Basta uma olhadinha, para o namorado enciumado e inseguro, ter suas crises.
Explodir em desaforos contra a pobre iludida.
Outras simplesmente fogem se deslocam para o campo onde seu muso está.
Assumem o risco, quase que instintivamente.
Foi o que aconteceu em uma partida recente. Uma jovem simplesmente virou a casaca. Abandou os amigos que acompanhava e ficou. Sentou-se de forma solitária em um banco atrás do gol adversário, encantada, sofreu. Como sofreu.
Percebia-se sua aflição ao longo da partida.
Desesperava-se com a violência praticada contra seu muso.
E como os marcadores são cruéis.
Batiam com gosto.
Uma verdadeira sessão de descarrego.
Uma crueldade sem tamanho, com o pobre coração aflito que parecia não aceitar o que acontecia.
Incomodada, roía as unhas, gesticulava. E a cada encontrão, era uma sofreguidão indescritível.
A cada ai.
Um ui.
Um palavrão abafado pela consciência comprometida.
Olhava o relógio.
Murmurava o nome que acabara de Aprender.
Vai Val.
Vai Val.
Parecia pedir um gol ao destemido camisa sete, coincidentemente o número imortalizado por Renato Portaluppi.
Seus olhos o acompanhava por todo o campo.
Pareciam querer protege-lo.
Foram longos cinquenta minutos de sofrimento. Perceptíveis em seu cruzar de pernas. No olhar fixo para o campo. E acima de tudo, pela expressão de angústia.
Definitivamente, o que era para ser um "vou ali, e já volto", virou torcida. Esqueceu de vez o time que acompanhara.
Era a mais pura expressão de devoção.
A devoção a Lindo Val.
Suas mãos pareciam sempre estar em oração.
A fazer um pedido.
Suas preces foram atendidas, no final do jogo. Com o gol que selaria a partida. Um gol de classe e frieza.
Na entrada da área.
Diante de um marcador vencido.
Como poucos musos, foi generoso, ouvíamos orientaro lateral que nervoso e indeciso, evitou o arremate frontal.
Dizia firmemente
- Faça o gol. Chute.
Não chutou.
Passou.
Passou forte.
Quase sem ângulo.
Bola rápida.
Domínio preciso.
Lindo. Preciso.
Lindo.
A jovem mal piscava. Levou a mão à boca.
Lindo.
Creio que naquele. Justamente naquele momento. Sequer respirou.
Lindo.
Parecia querer parar a projeção do goleiro contra seu muso.
Seria inevitável o impacto. Era um goleiro maçudo.
Mas não, para ele aquilo era poesia.
Olhou fixamente para o goleiro que em desespero já deslizava pelo chão.
Fitou-o.
Parecia querer ver dentro de seus olhos.
Bateu seco e saltou.
Não de qualquer jeito.
Ela se levantou do banco.
A bola entrou.
Ela saltou.
No canto superior.
Ela gritou.
E juntamente com o barulho da bola deslizando pela rede, ouvia-se ao fundo.
Lindo.
Lindo.
Lindo.
Lindo.
Uma alma estava agraciada.
Abriu em seu belo rosto um sorriso.
Sorriso que contrastava com o olhar cabisbaixo do goleiro que sequer levantou do chão.








domingo, 2 de fevereiro de 2020

Jarrão



O futebol de várzea tem seus mistérios e histórias, é recheado de personagens das mais diversas alcunhas. Penso, que na várzea ser chamado pelo nome beira o desrespeito.
São muitos os apelidos que desfilam pelos campos, uma listagem digna de uma taxonomia específica. Boizinho, Peruca, Barriga, Queixada, Vermelho, Bagaça, Sossego, Tiziu, Tyson, Delega, Balão, Buiú, Toddy, Soninho, Miséria, Tonho Preto, e assim se estende a lista por gerações de atletas.
Muitos apelidos acompanham-nos desde a infância. Uma forma de "categorização" do indivíduo, é quase um segundo batismo. Outras são atribuídas tardiamente, e muitas nascem dentro dos campos de futebol ao ponto de nunca saber o nome verdadeiro de alguns jogadores.
Nesse universo de alcunhas, há alguns anos, uma vem tirando o sono de muitos marcadores da cidade, a figura atende por Jarrão.
O nome?
Sabe lá Deus qual. 
Mas falou Jarrão em qualquer região da cidade. Dão até o número de sua chuteira.
Dia de marca-lo, é jogo sem elegância, marcador precavido joga na base da trombada e do chutão. Sem conversa. Qualquer jogador bem informado sabe disso.
É jogo no IAPAR? 
Tem que reforçar a marcação.
E não tem sossego.
Sozinho segura no mínimo dois marcadores.
E o pior, não falta. Sequer dá uma trégua com uma lesão ou outra.
O indivíduo parece que mora no campo.
Quando atrasa, dá para escutar o murmurinho.
O semblante do pessoal fica tenso.

- E ai, ele vem ou não?

Com seus quase dois metros de altura e alguns quilinhos a mais, é um antagonista no sentido pleno da palavra naquilo que se compreende como fisionomia futebolística.
E ai que mora o perigo para os desinformados.
É meio time, e todos sabem disso.
Todos. Companheiros do Amigos do Iapar e os adversários. 
Os que não sabem, ao término das partidas ficam sabendo.
Deu espaço, é gol.
É o rei da área em Londrina.
Sujeito de pouca conversa no campo, caminha sempre de cara fechada. Faz o tipo intimidador. Grande e corpulento, é dono de uma canhota incrível. Conhecedor de seu status, parece entrar em uma bolha quando está no gramado.
Falou Jarrão. Todos já sabemos, lá vem cotovelada, pisão no pé, tapas no peito e muita habilidade com pivôs quase imarcáveis.
Seu jogo, todos conhecem, trava a bola em sua canhota, segura na parede e prepara o pivô.
É um perigo. Quanto mais perto da área, mais letal.
Gosta de jogar de costas.
Poucos gostam tanto.
Em jogo com personagem tão folclórico, todos viramos coadjuvante.Tem-que se criar uma coregrafia para anula-lo, o na pior das hipóteses, diminuir o estrago. 
Chegará um dia que lhe prestarão a devida homenagem, batizarão o campo com o seu nome.
Talvez, até uma placa com o total de gols marcados.


referente a junho de 2014