sexta-feira, 26 de junho de 2020

O TORCEDOR







Figura ilustre em qualquer partida de futebol, ninguém entende mais desse esporte que o torcedor.
Faz da arquibancada seu palco. E nada escapa de seus apontamentos.  
A sua insatisfação pode ser escutada no horizonte. Pelas ondas do rádio e da televisão.
E se não escutam, grita, xinga e faz protesto na entrada do campo.Seja esse uma arena moderna, ou o campo da vila.
Se não gostou, persiste. E persistindo, desbanca treinador medalhão.
Com o torcedor não tem meio termo, cai mesmo.
De seu espaço tece as críticas mais ácidas recheadas de desaforos.
Criam e recriam estratégias de jogo. Ali, na hora. Fruto da paixão e da improvisação coletiva.
Formou bolinho, tenha a certeza, estão tramando a estratégia da vitória. As substituições certeiras, as quais a miopia do treinador jamais permitiria ver.
É para isso que estão ali. Fiéis e incorruptíveis.
Realmente, Ninguém entende mais de futebol que o torcedor.
Seja pelo VAR.
Seja pelo mais puro intuito. 
Se é contra o seu time, o homem de preto está errado.
Aliás, nunca na história do futebol, um assoprador conseguiu atingir a glória com essas figuras.
Por mais íntegro que seja, sempre paira contra ele, nas arquibancadas, a desconfiança.
Pois, ninguém, entende mais de futebol que o torcedor.
E ele, está em toda parte.
No boteco, no ônibus, no campinho e nas esquinas.
Nada escapa de seu olhar. Nem mesmo o jogador.
Esse só tem uma chance. Se não cai na graça sai de cabeça cheia.
Vai do céu ao inferno em poucos segundos. Pois o torcedor é assim,
A cada gol.
É uma efusão. 
Gritos
Pulos
Abraços
E palavrões
E como xinga o torcedor!
Xinga por felicidade
Xinga a cada gol sofrido
Xinga. 
O palavrão já está incorporado em seu vocabulário, está na tessitura de seus comentários. 
Não adianta censura-lo.
Não há o que fazer.
O pobre diabo descarrega o dia no espetáculo.
Se está insatisfeito, arremessa o que tem.
Vai para casa descalço
Sem camisa
Mas não sem passar a limpo os personagens.
Mas, quando tudo ocorre como planejado.
O treinador o escuta. A substituição que ele planejou dá certo. O seu xodó está em um bom dia.
Nada o contem.
É beijo e choro.
Bebe, e chora. Grita,vibra.
Pois ninguém
Digo e afirmo
Ninguém entende mais de futebol que o torcedor. 
Eles são a maioria.

sábado, 13 de junho de 2020

Aforismos de um brucutu


Sergio Ramos, zagueiro do time espanhol Real Madrid, em sua clássica chave de braço que tirou de campo o atacante egípcio Mohamed Salah, do Liverpool, na final da Champion League, de 2018 .


Caríssimo atacante. Ou qualquer ser predestinado que por insanidade ou ânsia de fama, pretenda avançar contra minha minha meta. Deixo-lhe como observação algumas palavras.
Diz-se muito sobre a virilidade de alguns marcadores.
Rotulam-nos de truculentos.
Injustiçados por sua determinação. Ao ponto de sermos taxados covardemente, como violentos.
Isso é uma infâmia.
Confundem o ofício daquele que defende.
Atribuem-nos valor.
E dizem em voz solta, que bate.
Mas o que é o bater? 
O bater no futebol, longe de ser a manifestação covarde da violência como impera no senso comum.
Ou a imprudência dos loucos.
É a manifestação do puro equilíbrio.
Da sapiência, do conhecimento anatômico e matemático.
Acima de qualquer juízo.
O bater, é um gesto de carinho
Um carinho ambíguo. Rodriguiano.
Com a quase conivência da vítima.
É um gesto de reconhecimento. E porque não, de sublimação.
O marcador é quase um esteta. 
Contempla proximamente o giro. O passe perfeito. O bailar do drible.
E de tão próximo, ceifa-lhe. 
Bate.
Gerando um outro movimento. Tenso. Com expressões próximas aos personagens mais dramáticos de Goya e Velázquez. 
Ao bater, recria a obra e o movimento.
Cria uma nova sonoridade para a partida.
Existe entre ambas as partes, mesmo que inconscientemente, uma cumplicidade no gesto.
...
Ao atacante vitimado, resta-lhe a certeza que a ação vil nada mais é do que o reconhecimento máximo de suas qualidades em campo.
Sabe disso.
Mesmo quando estendido à grama.
Sabe disso.
Com o corpo tomado em dores do encontro epopeico. 
O bom atacante não deve mal-dizer o seu algoz.
Pois esse, tal como se espera, se aproximará e dirá

- Levanta que apenas começamos.