sábado, 27 de janeiro de 2018

O gol

fonte: https://www.soumeier.com.br/noticias/futebol-de-rua-9-machucados-que-quem-jogou-ja-teve/

Lá estava ele, solitário encostado no muro.
Montado como os grandes. Em ferro. De boa soldagem. Solitário.
Estava atrasado, mas parei.
Não estava jogado, ou guardado para o momento de uma partida digna de sua presença.
Estava posto.
Sobre a calçada.
Mas posto. Devidamente, montado, com marcação e tudo que lhe diz respeito.
A sua frente, abaixo do meio fio, havia uma área marcada em branco.
Em tinta óleo, milimetricamente marcada. Nas dimensões oficiais dos moleques da rua.
Lembrei de minha infância. De quando pintávamos a rua com as cores de nossos times.
Cores subtraídas dos estojos de nossas professoras.
Algumas, generosas, enternecidas por nossos pedidos, guardava-os, com um carinho maternal. Outras não. Obrigávamos a vasculhar estojos e latões de lixo.
Mas, o objetivo era maior.
Eram arenas incríveis, que em época de Copa e Brasileirões, tornavam-se verdadeiras sedes futebolísticas.
Eram campos medidos "a pé". Gols de tijolos que geravam polêmicas.
Levávamos horas  no preparo da arena.
A bola?
Clássica "Dente-de-Leite", colada com chiclete. Toda desenhada.
Eram memoráveis as partidas de fim de tarde.
Por alguns segundos tive meus dez anos de idade de volta.
Contemplei atentamente aquele gol solitário, margeado por uma rua estreita.
Não era qualquer rua.
Não para mim. Não para o menino que sonha.