segunda-feira, 14 de março de 2016

GAROTOS DO VIOLIN

Edição sobre fotografia de Caio Vilela.
Fonte: http://revistatrip.uol.com.br/trip/futebol-pe-no-chao 

As tardes escaldantes no empoeirado campinho do Conjunto. De uma adolescência que como grãos de areia escorre pelas armadilhas da memória.
Sandálias encardidas de terra e suor, um tipo de lama. Uma assinatura dos verdadeiros pés de toddy.
Todos de bermudas e camisas surradas, sentávamos a beira do gramado. Debaixo da sombra da copa de uma árvore que teimosamente crescia sobre o barranco.
Aflitos.
Todas as tardes eram de aflições.
Esperávamos por ela.
Poderia ser velha. Com gomo faltando.
Poderia até estar murcha.
Mas deveria "estar".
Sua presença mudava tudo.
Formavam-se dois times.
Em poucos minutos três, quatro e tantos outros.
Era o pessoal da Arara Azul. Da Capitão do Mato. Da Félix Chenso.
Formava-se um verdadeiro campeonato de ruas.
Tinha o pessoal do "Grilinho".
Esse, um time a parte. Não se misturavam.
Na escolha dos atletas, havia uma regra sagrada. Time bom, era time que tinha a trinca. Goleiro paredão. Zagueiro cavucador e Centroavante matador.
O resto dava um jeito.
Nesta época, quem jogava em times era estrela.
Arrisco-me a dizer, as estrelas da pelada.
Era os sem camisas contra os com camisas.
Tudo decidido no par ou impar.
Lembro-me do Tuia, Polacão, Gordinho, Neguinho, Curitiba, Cesinha, Baiano, Nezão, Sossego e tantos outros.
Jogávamos descalços.
Chuteiras eram para os domingos.
Jogávamos horas a fio.
O relógio?
Esse ficava por conta do sol.
Encontrávamos uma utilidade para o horário de Verão.
Como a poeira subia.
A grama era apenas uma tímida cobertura em uma das laterais do campo.
Hoje há muita grama no campo de minha juventude.
Há poucos garotos para vê-los jogar.
As traves continuam lá.
A esperas de garotos que como eu, sonharam, suaram e correram pela cortina de poeira do velho campo do Violin.