domingo, 12 de janeiro de 2020

Menino abusado

Jogo da copa Cambélon 2017, campo do Maria Lúcia.
Fotografia: André Camargo Lopes

- Vou começar jogando?
Não entendemos a pergunta e continuamos o aquecimento.
Mas o indivíduo era persistente, e tornou a perguntar.
- Vou começar Jogando?
Era uma pegunta estranha para início de temporada.
Acabara de entrar no elenco.
Inserido no grupo de Whatsapp do time, brincou, resenhou e até deu palpite. Parecia que realmente estava acreditando naquilo que ali ocorria. Levou a sério. Tem jogador que acredita em resenha de Whatsapp.
Falaram que está voando, e acreditou. E pior, foi para ousadia, queria derrubar o titular de carreira atropelando a fila dos reservas. Não entendia o jogo da resenha. No grupo, fala-se o que quer. Lava-se roupa suja, provoca o companheiro para ver o que aguenta.
Mas ele não.
Acreditou e foi para cima da diretoria.
Queria saber se iniciaria a temporada como titular.
Em seu segundo jogo.
Os donos da posição ficaram ofendidos.
E digo, titular ofendido não sai de campo.
Fica.
Nem que for por pirraça. Mancando, saltitando.
Mas fica. E a cada tapa, dá uma olhadinha para o lado, só para provocar.
Mas, o indivíduo não tinha limites, era ousado.
Com ele não tinha conversa.
Já estava no campo.
Colocou o uniforme o correu para o aquecimento.
Bateu bola com o pessoal, já se considerava o titular da posição.
Aqueceu.
Chutou a gol. Alongou. Deu saltinho e arrancou. Estava pronto para a partida.
Se posicionou na sua e lá ficou. Esperando a organização final da equipe.
Quando viu que estava sobrando. Começou a suar. Olhava para um lado e para o outro, inadvertidamente. Ansioso, não aguentou.
Perguntou outra vez: "E ai, vou para o jogo ou espero?"
É como se não estivesse satisfeito com a ausência da resposta.
Não precisava nem falar.
Os titulares já estavam em campo.
Apenas olhamos.
E sem resposta sentou.
Sentou e não gostou.
Fez até gol.
Mas a várzea não é o Cartola.
Jogou.
Não convenceu, e sentou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário