sábado, 17 de junho de 2017

Porque mudou o perfume?




Se tem uma espécie que conhece  até o perfume do adversário, esse é o volante.
Caçador do meio campo, é o chato. Joga colado. Baforando na nuca do penúltimo da linha adversária.
Corre, pula e rola.
Volta e meia retorna com um pedaço do adversário nas travas.
Volante bom faz cara feia, ou já nasce com ela pronta.
Esse papo de jornalista de volante moderno, isso na várzea?!
Não existe.
O torcedor de alambrado gosta do cara que anda sujo. O trombador.
Cada carrinho é um gol. Uma agitação geral na turma da cerveja quente.
Em época de redes sociais, atacante faz propaganda do figura:
"Os mano não tem dó, racha carrinho até em roda de bobo".
"Trombei com o cara e fiquei rodando o resto do jogo".
"O pior é o jacaré, quando fecha boca a canela trinca".
"Fiquei cinco dias de cama depois de um de seus botes".
É pânico geral.
Tem atacante "ousadia e alegria" que quando vê a figura aquecer do outro lado, inventa estiramento. Em alguns casos, até a morte da mãe.
Quem tem juízo tem medo.
Já vi atacante mudar de posição no campo.
Bastou uma conversa de pé orelha. Um tapinha na mãe.
E está lá, o destemido trabalhando de cabeça de área.
O bom volante é o cartão de visita da defesa.
Zaga de volante brucutu, tem beque homicida.
Todo time tem seus esquentadinhos. Xingam, intimam o adversário. Sempre estão dispostos a ir para o confronto.
Mas o volante não.
Calmo.
Até quando o corpo a frente se contorce.
Sempre calmo.
Bate e oferece a mão para o adversário.
- Levanta que foi de leve. Nem cheguei duro.
E o máximo do cinismo:
- Escorreguei professor. O campo está molhado.
O amigo leitor, se for amante do futebol, já deve ter presenciado conversas entre volantes e zagueiros. São monossilábicos, falam por códigos. Geralmente, precisos na ação:
-"Mata".
-"Dobra comigo e racha".
- "Morreu ele. Morreu."
- "Chega comendo, sem perdão".
-"Se der dois toques na bola é vala".
E assim se estende esse diálogo setorial.
E quando cola, chega e pergunta:
- Mudou o perfume?
Espantado, o pobre diabo levanta o braço e de migué sai de campo.




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