segunda-feira, 23 de novembro de 2015

OS GRANDES RONDINELLIS ESTÃO NA VÁRZEA

Fonte: http://morofilmes.com/portfolio/amadores-futebol/ 

22 de novembro de 2015

Dois personagens nasceram para bater e apanhar em um campo: o zagueiro e o centroavante.
Jogam um jogo a parte.
Aprendem lições distintas dos demais atletas.
Ainda menino, por volta dos 12 anos, quando cai na besteira de falar para meu tio que seria zagueiro. Esse todo envaidecido (pois era de seu ofício que falava) resolveu ensinar-me os seus atributos de área.
Mostrou-me sua chuteira OLYMPIKUS toda "arrebitada", com pregos no bico e trava de rosca.
Orgulhoso de seus feitos, ensinava-me a conduta de área. 
Pisar no pé do adversário para arrancar em uma disputa.
Deslocar os pobres diabos no alto.
Tapinhas na cara sempre quando necessário.
E cotovelos. Muitos cotovelos em todas as disputas acirradas.
Para ele carrinho não era exceção. Era regra no jogo. 
"Zagueiro bom rala a bunda no chão", dizia.
Cresci com essa imagem do ofício. Reforçada com a fabulosa zaga Marcio Alcântara e  João Neves, dois corpulentos beques que administravam a defesa do Londrina na primeira metade dos anos de 1990.
Lembro-me que com os dois em campo era risada garantida.
Algum atacante adversário iria comer brita. Voaria pelo gramado.
Eram implacáveis.
Isso se reproduzia nos campos da cidade.
Zagueiros carrancudos.
Fortes e cheirando a cânfora.
Alguns jogavam de meias arriadas.
Outros, pareciam verdadeiros gladiadores, com caneleiras, protetores de coxa, joelheiras e outros aparatos.
O que tinham em comum?
Sangue no olho.
Nada mais folclórico no futebol amador que a figura do zagueiro.
Zagueiro bom na várzea é ídolo. 
E torcedor varzeano não gosta do tipo bonzinho. Rapaz habilidoso.
Zagueiro bom. É padrão Rondinelli, raçudo com R maiúsculo e duplicado.
Tanto quanto um gol, o torcedor varzeano aprecia seus "deuses da raça" em campo.
Para muitos, um carrinho bem sucedido é o equivalente a um gol.
Já escutei a beira de campo que zagueiro bom não sai limpo de uma partida.
Seja com poeira do campo, seja com a lama em dias chuvosos, seja de sangue. 
Zagueiro que se presa sai sempre sujo.
É com orgulho que exibimos as lesões.
Correr com a camisa rasgada.
É um prazer indescritível.
Calções não suportam tais criaturas.
Pois como poucos sabem ampliar a extensão de seus corpos em carrinhos assustadores.
Lembro-me da torcida se levantando à beira do campo do Heimtal, toda vez que uma bola era lançada e disparava em corrida com o adversário.
Alguns mais ousados gritavam: "arremessa aqui".
Sabiam do desfecho da jogada.
Atacante conhecido, nem ia na bola.
Pois conhecia os famosos "jacarés"
É o ofício sem glórias, vivemos de destruir.
Nem entramos nas estáticas das partidas.
Mas esse final de semana foi diferente.
Zagueiro bom tem tempo de bola. 
E foi isso que aconteceu.
Enquanto todos olhavam para a bola.
Aquele que vos escreve, olhava para o vazio. Uma passarela aberta no centro da área.
O passe açucarado de Toddy, foi o suficiente para que me lançasse como um pássaro à bola.
O gol mais zagueiro que fiz em minha vida.
Sem medo da sola do goleiro.
Da trave.
Ou do chão.



ELETROGE F C 6 X 0 ÁGUA VERDE/JARDIM IDEAL

Gols: (1) André, (1) Alan, (1) Nardo, (1) contra, (1) Ronaldo, (1) Maurão



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