quarta-feira, 4 de abril de 2018

Márcio, você viu

Rodrigo, o zagueiro da DEDADA deixa a Ponte Preta

Os gritos eram fortes
"Márcio você  viu. Márcio, você viu"
O jovem estava transfigurado.
Contido inicialmente por dois, depois três jogadores. E todos aqueles dispostos a segura-lo. Esbaforindo palavrões, lutava contra braços e corpos que se colocavam a sua frente.
Queria a alma de nosso lateral, que impassível, apenas levantava o braço em sinal de que não fez nada.
Uma atitude incrível de quem acabara de receber um chute pelas costas.
Era um chora daqui, que cobro dali.
todos pendurados no Márcio.
"Vai ter que ter punição".
"Como assim?"
O que deu nesse moleque, que continuava a gritar em direção ao árbitro.
"Márcio, você viu".
"Você viu sim".
E Márcio, esse era o nome do árbitro. Um negro corpulento, alto, de uma calma invejável. Com o semblante dos justos, procurava no bolso esquerdo de sua camisa o cartão. Faria justiça.
Tamanha covardia não poderia deixar de ser penalizada.
Por um momento, tomou o vermelho em mãos.
Mas, antes de levantá-lo, como que assaltado por uma dúvida.
Eis que levanta o azul.
Agora, éramos nós os indignados.
"Poxa Márcio, foi agressão. Você viu."
"No futebol pode tudo. Mas chutar assim, já é covardia. Azul está barato"
Impassível, com um toco de lápis em sua mão direita apenas anotava.
Sequer nos deu atenção. E para piorar, disse:
"Volta em cinco. Faltam seis. volta em cinco".
Na saída de campo, o jovem que passara por mim, repetia,
"Um minuto, ah! Eu pego ele".
Sequer sentou. Amparado por amigos tentava justificar sua atitude.
Não se conteve.
Estava em cólera.
Xingava à beira do campo. Incrédulo e revoltado com a pena atribuída a seu destempero. E repetia para si
"Eu pego ele, me põe que eu pego ele".
Em um plano que seria o revide mais rápido da história do futebol. Passaram mil estratégias. Todas fadadas ao peso do tempo.
E a vítima?
Afastado do centro da confusão, apenas ria enquanto era fitado por aquele olhar sedento de vingança.
O jovem não se conteve.
Aquilo era demais.
Humilhante.
De fora do campo, o garoto gritou.
Gritou com fúria.
Com os pulmões cheios.
Como macho ofendido.
Indignado pela cegueira de todos.
"ELE ENFIOU O DEDO NO MEU CU. NO MEU CU, OUVIU?"

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